Palavra do Bispo

   Neste espaço, estaremos disponiblilizando as matérias do Bispo de nossa Diocese, Dom Irineu Silvio Wilges, que são publicadas nos finais de semana em um dos jornais de nossa cidade, intituladas "Conversando com o povo de Deus".
   Em breve, o próprio Bispo estará abrindo este espaço com suas palavras.

   Obrigado, Dom Irineu, por seu apoio e bênção para essa iniciativa!
   (Grupo de Oração Pentecostes)






Conversando com o povo de Deus (494) Que devo fazer para herdar a vida eterna?



Conversemos sobre a liturgia do domingo próximo (11/07/10). A 1ª leitura é do Deuteronômio 30,10-14. Deus elegeu, entre todos os povos, o povo de Israel, povo insignificante no contexto mundial, como o seu povo. Coisas do amor, coisas inexplicáveis para a razão. Mas a escolha tem conseqüências. Amar a Deus com todas as forças. Se for infiel deve voltar atrás. Por isso Moisés pede ao povo: “observa todos os mandamentos do Senhor. Converte-te para Ele com todo o teu coração”. Mas o povo acha os mandamentos muito difíceis. Deus responde que não. Nem estão longe do homem. Lá no céu ou no outro lado do mar. Não. “Estão na tua boca, no teu coração para que os possas cumprir”. Hoje ainda vemos judeus no muro das lamentações com uma caixinha na testa ou no braço com textos da Lei. Ele deve ter sempre a Lei de Deus diante de seus olhos (Dt 6.8). Quando nós praticamos a Lei de Deus com amor, ela se torna um peso leve e um jugo suave, fonte de vida, paz e alegria. Pe. Atilinho, Vigário paroquial da catedral, você que celebra domingo, os seus 25 anos de sacerdócio, certamente experimentou isso na sua vida.


O Evangelho é de Lucas 10, 25-37. Mas no tempo de Jesus, além dos 10 mandamentos, havia um mundo de 613 preceitos. Assim um mestre da Lei, pergunta a Jesus para prová-lo: “que devo fazer pra herdar a vida eterna?” Jesus responde perguntando: “O que está escrito na Lei?”. E ele responde: “Amarás o Senhor teu Deus de todo coração... e ao próximo como a ti mesmo”. Jesus o elogiou dizendo: “Faça isso e viverás”. Mais tarde Jesus dirá completando o amor ao próximo: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”. Até a morte.


Agora vem a parte que dos quatro evangelistas só Lucas narra. O mestre da lei não se entrega. Quer ver se pode por Jesus à prova de outra maneira. “Quem é o meu próximo?”. Próximo para o judeu era o outro judeu. A palavra hebraica para próximo tinha como sinônimos a palavra vizinho e amigo. Jesus não dá uma definição, mas conta uma parábola. A parábola do bom samaritano. Certo homem, judeu negociante, descia de Jerusalém, 750m acima do nível do mar, para Jericó, 370m abaixo do nível. Caiu nas mãos de assaltantes. Já naquele tempo os havia. Arrancaram-lhe toda a mercadoria que levava par vender, o bateram, deixando-o meio morto. Um sacerdote e depois um levita, ambos judeus, desceram pelo mesmo caminho quando viram o homem meio morto passaram pelo outro lado, o mais longe possível. Certamente disseram para si: “Onde está a polícia? A gente paga imposto para que?” Todos os três eram judeus. Vem agora o samaritano, habitante da Samaria, gente odiada pelos judeus, tida como só meio judeu, meio paganizada, negociante como o judeu assaltado, portanto o seu competidor, este samaritano se aproxima. Não passa longe. Se aproxima. Viu. Se compadeceu. E começou a fazer curativos, derramar sobre as feridas azeite, que serve para suavizar e vinho, que serve para desinfetar. Depois o botou sobre a garupa do cavalo e o levou para uma pousada. Lá cuidou dele. E no outro dia, pagou o dono da pousada, pediu que cuidasse bem dele e que na volta iria pagar o que teria gastado a mais. O amor não tem limites. E aí Jesus pergunta ao Mestre da Lei: “Quem dos três foi o próximo do assaltado?” E ele respondeu: “O que usou de misericórdia com ele”. E Jesus responde: “Vai e faze o mesmo”.


Gostei da pedagogia de Jesus. Ele faz o outro mesmo descobrir a resposta. E Jesus não responde à pergunta, quem é o meu próximo, mas como fazer-se próximo do necessitado. É este que me pede proximidade, vizinhança, amizade. Aliás, Jesus é o bom samaritano, que se fez próximo, vizinho e amigo nosso. Que deu a sua vida para que nós tivéssemos vida e vida em abundância. Que nos diz: “Vai faze o mesmo”. Quais são os assaltados de hoje? Os aidéticos, os dependentes químicos, os famintos, os sem terra, os sem teto, os sem assistência de saúde, os desempregados, os doentes, as crianças, os jovens, os flagelados do Nordeste? Pe. Atilinho, parabéns pelos seus 25 anos de sacerdócio. Parabéns pelos seus 25 anos de bom samaritano. Ensina-nos a ser bons samaritanos.